Em 1817, um jovem botânico alemão desembarcou no Brasil com uma missão: desvendar os segredos da flora tropical. Dois séculos depois, o Museu Von Martius, encravado no coração do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), revive a jornada de Carl Friedrich Philipp von Martius com uma celebração que mistura ciência, cultura e memória. Na próxima sexta-feira (18/8), o bicentenário da expedição do naturalista ganha vida em uma programação gratuita que vai de concertos de modinhas do século XIX a debates sobre conservação ambiental.
O homem que catalogou o Brasil
Von Martius não era apenas um cientista—era um observador obstinado. Durante três anos, percorreu mais de 10 mil quilômetros pelo país, descrevendo espécies como a Victoria amazonica, a imensa vitória-régia que impressionou europeus. Sua obra Flora Brasiliensis, com 20 volumes e 22 mil páginas, permanece como um dos maiores inventários botânicos do mundo. “Ele foi um dos primeiros a enxergar a biodiversidade brasileira não como exotismo, mas como ciência”, diz Irineusa de Oliveira Santos, arquiteta do Parnaso e uma das curadoras do evento.
Música que viajou no tempo
Às 11h, a Escola de Música da UFRJ resgata partituras que Von Martius coletou em suas andanças. Destaque para o Lundu, ritmo ancestral que ele registrou em 1818—o primeiro documento conhecido desse gênero, precursor do samba. “É como ouvir a voz do Brasil colonial”, explica Magda Belloti, cantora que lidera o recital. Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga e Jacob do Bandolim completam o repertório, mostrando como a música brasileira se alimentou das raízes que o botânico ajudou a documentar.
Debates para o futuro
Enquanto violões ecoam no casarão histórico, rodas de conversa discutem desafios atuais. Um deles, liderado pelo biólogo Daniel Luz, aborda o tráfico de animais silvestres—problema que Von Martius já denunciava em seus diários. Outro painel, com o reitor da UFRJ, Roberto Leher, conecta a expedição do século XIX com a pesquisa científica contemporânea. “Ele mapeou plantas; hoje, precisamos mapear soluções”, diz Leher.
Arte e paisagismo
Para os visitantes que preferem experiências manuais, a artista plástica Fabiana Kaled expõe obras inspiradas na iconografia botânica do século XIX, enquanto workshops ensinam técnicas de pintura com pigmentos naturais—uma homenagem às tintas que Von Martius usava em suas ilustrações.
Por que ir?
Além da gratuidade, o evento oferece algo raro: a chance de pisar no mesmo solo onde o naturalista dormiu. A antiga Fazenda da Barreira, onde ele se hospedou em 1818, hoje abriga o museu. “É uma viagem no tempo, mas também um convite para repensar nosso papel na preservação desse legado”, reflete Leandro Goulart, chefe do Parnaso.
Serviço
Onde: Museu Von Martius, Estrada do Soberbo, s/n, Guapimirim.
Quando: Sexta-feira, 18/8, das 9h às 16h.
Entrada: Gratuita.