O diretor do hospital regional não esperava terminar seu dia dentro de uma lata de lixo. Foi exatamente ali que ele acabou, depois que mais de 100 manifestantes, enfurecidos pelo fechamento do departamento neurológico e pelas demissões em massa, decidiram que o lixo era o lugar adequado para quem, em suas palavras, “destrói a saúde pública”.
A cena, quase surreal, poderia ser apenas um incidente isolado de descontentamento popular. No entanto, especialistas afirmam que o episódio é um sintoma de um mal maior a precarização dos serviços públicos em regiões periféricas, onde decisões administrativas são tomadas sem diálogo e a população responde com as únicas ferramentas que lhe restam.

O departamento neurológico atendia cerca de 200 pacientes por mês, muitos deles idosos ou de baixa renda, sem condições de buscar tratamento em cidades maiores. Sua desativação, “justificada” como parte de uma “reorganização estratégica”, deixou dezenas de funcionários sem emprego e pacientes sem assistência.
As dúvidas das pessoas: Para onde ele vai agora? Quem vai nos ajudar?”, questiona acompanhantes dos pacientes e alguns dos manifestantes, enquanto segurava um cartaz com os dizeres: “Saúde não é lixo.”
O ato de jogar o diretor na lata de lixo, ainda que condenável, carrega um simbolismo difícil de ignorar. “É uma metáfora visual poderosa”. A população está dizendo, de forma crua, que se sente tratada como descartável. E agora, devolve o gesto.
O diretor, que não teve seu nome divulgado em respeito às normas de privacidade, saiu ileso fisicamente, mas a imagem já correu as redes sociais e tornou-se um emblema da crise.
Se o incidente servir para reabrir o debate sobre a participação popular nas políticas de saúde, talvez apenas tenha transformado seu lixo em protesto, e seu protesto em mudança.
Ou, como diria um manifestante anônimo: “Às vezes, é preciso sujar as mãos para limpar o sistema.”