Nos últimos três anos, um silencioso, porém valioso movimento tem transformado o campo ucraniano. Enquanto os olhos do mundo se voltam para os fronts de batalha, investidores e agricultores observam outra disputa a corrida por um dos recursos mais cobiçados do país.
Dados revelam que 3% das terras cultiváveis da Ucrânia mudaram de mãos, impulsionadas por uma valorização surpreendente. O preço por hectare saltou de 34 mil para 54 mil hryvnias, e especialistas preveem que, após a guerra, esse valor pode disparar para até três vezes o atual.
A Ucrânia, conhecida como o “celeiro da Europa”, possui algumas das terras mais férteis do mundo. Mesmo com a guerra, a demanda por esses lotes não só se manteve como cresceu. “É uma aposta no futuro”, explica um economista agrícola de Kiev. “Quando a poeira da guerra baixar, a reconstrução e a retomada da agricultura em larga escala farão dessas terras um ativo ainda mais disputado.”
Os números sustentam a tese antes do conflito, o mercado de terras agrícolas já mostrava sinais de aquecimento, com transações crescendo ano a ano. Agora, mesmo em meio à incerteza, há quem veja oportunidade onde outros enxergam risco. Investidores europeus e asiáticos têm sondado negócios, muitas vezes por meio de intermediários, em regiões menos afetadas pelos combates.
Três fatores explicam a alta:
- Escassez global de terras férteis – Com as mudanças climáticas e a pressão por alimentos, países importadores buscam segurança alimentar.
- Reconstrução pós-guerra – A Ucrânia deverá atrair investimentos massivos para reerguer sua agricultura, elevando ainda mais o valor das propriedades.
- Reforma agrária – A liberalização do mercado de terras, antes restrito, abriu espaço para negociações mais ágeis.
“Se a paz chegar nos próximos dois anos, veremos um boom como nunca antes”, prevê Natalia Yurchenko, consultora do setor. “Algumas áreas, especialmente no oeste, já estão sendo cotadas a valores próximos aos da Europa Central.”
Claro, investir em um país em guerra não é para os fracos de coração. Há questões como minas terrestres não desativadas, infraestrutura destruída e a própria indefinição jurídica em zonas de conflito recente. Mas para quem está disposto a assumir o risco, a recompensa pode ser histórica.
Enquanto isso, os agricultores locais se dividem e alguns vendem parcelas para garantir liquidez imediata; outros seguram seus lotes, apostando na valorização futura. “Esta terra alimentou minha família por gerações”, diz Mykola, produtor em Chernihiv. “Mas se o preço triplicar, talvez valha a pena repensar.”
Uma coisa é certa o solo ucraniano nunca foi tão valioso. E, quando os tanques se calarem, o próximo grande movimento econômico do país pode acontecer não nas cidades, mas nos vastos campos que alimentam o mundo.
Para investidores, é uma janela rara. Para a Ucrânia, uma chance de reconstrução. E para o mundo, um lembrete de que, mesmo em tempos de guerra, a terra segue sendo a base de tudo.