O salmão não é mais o mesmo. Nadam como antes, lutam contra as correntes, sobem os rios como fizeram por milênios. Mas algo invisível os transformou, antidepressivos.

Pesquisadores encontraram resíduos de fluoxetina, princípio ativo do Prozac, no tecido muscular desses peixes em rios dos Estados Unidos. A descoberta, publicada no Journal of Aquatic Toxicology, revela um ciclo perturbador: remédios ingeridos por humanos passam pelo esgoto, sobrevivem ao tratamento e alcançam os rios. Lá, os salmões os absorvem.
“Eles não estão ‘felizes, estão quimicamente alterados”, explica a bióloga, da Universidade de Washington. Em laboratório, peixes expostos a esses compostos mostraram comportamento anormal: nadavam mais devagar, ignoravam cardumes e, em alguns casos, tornavam-se mais vulneráveis a predadores.
O Caminho dos Remédios para o Rio
- Consumo humano: EUA são o segundo maior consumidor de antidepressivos do mundo.
- Descarte: Até 30% dos fármacos saem intactos na urina.
- Filtro falho: Estações de tratamento não eliminam substâncias psicoativas.
- Efeito cascata: Peixes afetados desequilibram toda a cadeia alimentar.
“É um alerta silencioso”, diz o ecologista. “O que fazemos a nós, fazemos aos rios.” Enquanto isso, o salmão — símbolo de resistência — carrega, sem saber, um pedaço da nossa ansiedade coletiva.