Em um galpão discreto no estado de Montana, um grupo de engenheiros armazena o conhecimento humano em discos rígidos à prova de quedas de energia e até do apocalipse. O PrepperDisk uma biblioteca digital autônoma com 90.000 guias do WikiHow, toda a Wikipédia em inglês, manuais de sobrevivência, palestras TED e até arquivos governamentais está se tornando o item mais inusitado (e urgente) da lista de compras dos americanos.

A demanda por esses “discos do juízo final” explodiu após a eleição de Donald Trump em 2016, quando dados públicos começaram a desaparecer de portais federais. Mas hoje, não são apenas os preppers (aqueles que se preparam para catástrofes) que os compram. São professores em zonas rurais sem internet confiável, ativistas digitais e até pais que querem garantir que seus filhos tenham acesso ao conhecimento, não importa o que aconteça com a nuvem.
A ansiedade coletiva alimenta o mercado. Segundo um relatório da MarketWatch, as vendas de itens de preparação para emergências subiram 78% em 2023, impulsionadas por desastres climáticos e tensões políticas. O PrepperDisk chega como uma resposta prática, um HD de 5TB com o equivalente a 50 milhões de páginas de texto, que pode ser acessado offline por um router portátil.
“É uma versão off-grid da Biblioteca de Alexandria”, diz o fundador da iniciativa. Se um dia o Google cair, ou se um governo decidir riscar fatos da história, alguém ainda poderá aprender a purificar água, consertar um painel solar ou entender a Primeira Guerra Mundial.
O perfil do comprador mudou. Antes restrito a survivalistas, hoje atrai até bibliotecários e hackers éticos. Um cliente do Texas, que pediu anonimato, contou ao The New York Times que usa o disco para ensinar em comunidades sem banda larga. “É irônico que na era da IA, estejamos voltando a guardar conhecimento em ‘caixas’ físicas.”
Mas há críticas, especialistas em dados alertam que informações estáticas podem se tornar obsoletas, um risco em áreas como medicina. Outros veem um sintoma de desconfiança institucional: “Quando as pessoas duvidam que o conhecimento online permanecerá livre, elas criam backups da civilização”, analisa a socióloga.
Enquanto isso, o PrepperDisk já inspira versões europeias e asiáticas. Em um mundo onde até a internet parece frágil, talvez o objeto mais radical não seja um gadget, mas um velho disco rígido recheado de esperança (e manuais de primeiros socorros).