Enquanto alguns perdem o equilíbrio após uma taça de vinho, outros desafiam as leis da embriaguez. O que está por trás dessa resistência ao álcool?
Você já se encontrou em um bar, observando aquela pessoa que parece imune aos efeitos da bebida? Enquanto o grupo já está com a fala arrastada e risadas altas, ela permanece lúcida, como se estivesse tomando água.
Não é magia é biologia.
O fator genético
Estudos revelam que a capacidade de processar álcool varia drasticamente entre indivíduos, e grande parte dessa diferença está no DNA. Pesquisas da Universidade de North Carolina identificaram que mutações nos genes ADH1B e ALDH2 responsáveis pelas enzimas que metabolizam o álcool e podem acelerar ou retardar a intoxicação.
Quem possui uma versão “rápida” da enzima ADH1B quebra o etanol com eficiência, reduzindo seus efeitos. Já defeitos no ALDH2, comum em asiáticos, causam acúmulo de acetaldeído (substância tóxica), levando a rubor facial e náuseas um “freio natural” contra excessos.
Tolerância ou resistência?
Beber com frequência não torna alguém imune, mas pode aumentar a tolerância. O fígado produz mais enzimas para lidar com o álcool, e o cérebro compensa os efeitos depressores. Porém, isso não significa menor risco e o consumo crônico sobrecarrega órgãos e mascara danos.
Um estudo do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo (EUA) alerta que pessoas com alta tolerância tendem a subestimar seu nível de embriaguez, elevando riscos de acidentes e dependência.
Peso, sexo e até o que você comeu são variáveis invisíveis
- Metabolismo: Pessoas com maior massa muscular processam álcool melhor que as com alto percentual de gordura.
- Gênero: Em média, mulheres intoxicam-se mais rápido devido a menor quantidade da enzima desidrogenase no estômago.
- Alimentação: Um estômago cheio retarda a absorção do álcool, enquanto bebidas gaseificadas (como espumante) aceleram o efeito.
Como saber se você tem resistência?
Não existe um teste caseiro confiável, mas sinais incluem:
- Poucos sintomas após várias doses.
- Ausência de sonolência ou desinibição exagerada.
- Porém, especialistas ressaltam a resistência não é imunidade. O álcool ainda danifica neurônios e o fígado, mesmo sem embriaguez aparente.
E desde quando um bêbado sabe que ele não está bêbado? O momento que se torna mais perigoso é continuar bebendo achando que é resistente e ainda pode mais.
Materiais complementares:
Genética e metabolismo do Álcool
- Universidade da Carolina do Norte (UNC) – Pesquisa sobre genes ADH1B e ALDH2:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3863901/
(Estudo sobre variações genéticas e metabolismo do etanol) - Diferenças étnicas no processamento do álcool (ALDH2):
https://www.nature.com/articles/s41598-017-10924-8
Tolerância ao álcool e riscos
- Instituto Nacional de abuso de álcool e alcoolismo (NIAAA) – Tolerância e subestimação da embriaguez:
https://www.niaaa.nih.gov/publications/alcohol-metabolism