Era uma vez um mito que caminhou pelo mundo inteiro literalmente. A recomendação dos 10.000 passos diários, repetida em artigos, aplicativos de fitness e conselhos médicos, tornou-se um dogma do bem-estar moderno. Mas e se tudo não passasse de um número inventado, um arredondamento conveniente sem base científica? Novas pesquisas sugerem que sim, e que o verdadeiro segredo para uma vida mais saudável está bem abaixo dessa marca simbólica.

A crença nos 10.000 passos nasceu no Japão dos anos 1960, junto com um dos primeiros pedômetros comerciais, o manpo-kei que traduzido, significa “medidor de 10.000 passos”. “Era um slogan, não uma prescrição médica”, explica o Dr. Hiroshi Hasegawa, historiador da saúde pública. A ideia era motivar as pessoas a se moverem, mas o número foi adotado como verdade absoluta sem estudos robustos.
Décadas depois, a ciência finalmente corrigiu o curso. Um estudo publicado no JAMA Internal Medicine acompanhou 16.741 mulheres acima dos 70 anos e descobriu que aquelas que davam 7.500 passos por dia tinham taxas de mortalidade significativamente menores e que ultrapassar essa meta não trazia vantagens adicionais. Outras pesquisas, como as da Clínica Mayo, confirmaram. O benefício máximo da caminhada atinge um platô nesse patamar.
Menos é mais (e mais realista)
Para a maioria das pessoas, 10.000 passos equivalem a cerca de 8 km, uma meta intimidante em uma era de trabalho sedentário. “A frustração de não bater a meta pode até desmotivar”, afirma a psicóloga do esporte Dra. Ana Lúcia Mendes. Já 7.500 passos (aproximadamente 6 km) são mais acessíveis e igualmente eficazes.
E para quem busca perda de peso, a matemática é ainda mais simples: 25 minutos de caminhada vigorosa, 4 a 5 vezes por semana, reduzem gordura visceral e melhoram o metabolismo, segundo um relatório da Harvard Medical School. “O corpo responde à consistência, não à exaustão”, resume o fisiologista Carlos Ribeiro.
O que os dados revelam
- 4.400 passos/dia já reduzem mortalidade em 41% (Estudo Brigham and Women’s Hospital).
- 7.500 passos otimizam ganhos cardiovasculares e mentais.
- Caminhadas curtas e frequentes (como 3x ao dia) são tão benéficas quanto sessões longas.
A indústria do fitness ainda lucra com a obsessão por números redondos, mas a ciência pede pragmatismo. “Use um aplicativo para medir seus passos basais e adicione 2.000 a 3.000 a mais”, sugere Ribeiro. “O importante é romper o sedentarismo, não virar um maratonista acidental.”
Enquanto isso, o manpo-kei japonês ganha uma atualização necessária do século XXI, menos pode ser, literalmente, o novo mais
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