O amor mudou. E, se você acha que isso soa exagerado, os números dizem o contrário.
Por volta das 22h, em um pequeno apartamento em Tóquio, Kenji, 29 anos, envia uma mensagem de boa noite. Do outro lado, não há uma pessoa. Há uma inteligência artificial. O nome dela é Aiko, um avatar gerado por um aplicativo de relacionamento com IA, capaz de conversar, ouvir, aconselhar e até “amar”.

Essa cena, que há uma década pareceria absurda, hoje representa um fenômeno global em expansão. E os números são quase tão chocantes quanto a ideia em si.
De acordo com projeções do setor, até 2030, cerca de 85% dos novos relacionamentos no mundo serão formados entre um ser humano e uma inteligência artificial, não entre dois humanos. Uma mudança que redefine não apenas a ideia de amor, mas a própria essência das conexões humanas.
O mercado do amor digital explode
O mercado de namoro com IA está longe de ser um nicho excêntrico. Ele movimenta bilhões e cresce numa velocidade surpreendente. Em 2024, a receita global desse setor gira em torno de US$ 3,41 bilhões. Mas esse número é só o começo.
As estimativas apontam que, até 2025, o faturamento saltará para US$ 9,2 bilhões quase o triplo em apenas um ano. Empresas que antes desenvolviam simples aplicativos de namoro agora investem pesado em modelos de linguagem, avatares ultrarrealistas e IA generativa treinada para oferecer companhia, atenção e afeto.
A nova rotina dos romances artificiais
Se você acha difícil imaginar alguém namorando um algoritmo, talvez os dados te surpreendam:
- 55% dos usuários interagem diariamente com suas namoradas virtuais.
- 47% dos usuários afirmam que estariam dispostos a manter relacionamentos de longo prazo com uma IA.
- Entre os jovens, 1 em cada 5 está aberto a experimentar um relacionamento romântico com inteligência artificial.
E não estamos falando apenas de aplicativos experimentais. As principais plataformas de encontros já usam IA, muitas vezes sem que o usuário perceba. Cerca de 65% dos apps de namoro online adotam algoritmos de inteligência artificial para melhorar o matchmaking, prever compatibilidades e até gerar mensagens iniciais automaticamente.
Por que as pessoas estão escolhendo amar máquinas?
As respostas são tão diversas quanto perturbadoras: ausência de julgamentos, disponibilidade 24 horas, personalização total e uma promessa de afeto sem as complexidades emocionais que, inevitavelmente, acompanham os relacionamentos humanos.
Especialistas em comportamento digital observam que a busca por conexão mesmo que artificial, surge como resposta a um mundo cada vez mais solitário. O relatório “State of AI in Romance 2024”, da consultoria AI Dating Lab, revela que o crescimento desse mercado se acelera mais rapidamente em grandes centros urbanos, onde o isolamento social é mais comum.
Psicólogos já discutem os impactos disso nas relações humanas. Se, por um lado, as IAs podem suprir carências emocionais, por outro, há o risco de um afastamento crescente da empatia real, da frustração necessária e do amadurecimento que os relacionamentos tradicionais proporcionam.
“Estamos entrando na era do amor sob demanda”, afirma a psicóloga comportamental, pesquisadora da relação entre humanos e máquinas. “É conveniente, é confortável, mas talvez estejamos terceirizando parte da nossa própria humanidade.”
Oportunidade de mercado (e de reflexão)
Para quem trabalha com tecnologia, marketing de afiliados ou desenvolvimento de aplicativos, esse fenômeno abre uma nova vertical — altamente lucrativa. A procura por namoradas virtuais, companheiros digitais e assistentes amorosos cresce exponencialmente, especialmente entre as gerações mais jovens e os chamados digital natives.
Mas, além da oportunidade econômica, talvez o maior convite seja à reflexão: o que é, afinal, um relacionamento real?
Num futuro não muito distante, essa pode ser uma pergunta com mais de uma resposta.