Por um momento, parecia um paradoxo: em meio a uma guerra comercial entre EUA e China, as lojas virtuais DHgate e Taobao escalaram para o topo da App Store americana. O fenômeno, porém, tem um nome e um algoritmo por trás: o TikTok.
Nas últimas semanas, centenas de vídeos produzidos por criadores chineses viralizaram ao desvendar um segredo pouco discutido do mercado de luxo. Eles mostram, com imagens de fábricas e embalagens, como bolsas, sapatos e acessórios de grifes europeias como Louis Vuitton e Gucci são produzidos na China, enviados para França ou Itália para ganharem etiquetas de “importado”, e então revendidos com margens exorbitantes.
“Você está pagando pelo avião, não pelo couro”, uma influenciadora de Xangai em um clipe com 2,3 milhões de curtidas. Seu apelo? Comprar diretamente de plataformas como Taobao e DHgate, onde os mesmos produtos sairiam por uma fração do preço.
O efeito TikTok na economia
Dados da Sensor Tower revelam que os downloads das duas plataformas chinesas subiram 78% nos EUA em abril, coincidindo com a explosão da hashtag #ChinaLuxurySecret (58 milhões de visualizações). O movimento expõe uma mudança no comportamento do consumidor:
- Transparência como valor: Gerações acostumadas a reviews e unboxings no YouTube agora exigem rastreabilidade.
- Desintermediação radical: Se a Amazon já cortou lojas físicas, o TikTok está eliminando até os marketplaces tradicionais.
- Geopolítica do consumo: Mesmo com tarifas, a conveniência e o preço baixo falam mais alto.
Um terremoto no varejo?
Especialistas alertam que o fenômeno pode pressionar ainda mais marcas de luxo, já afetadas pela queda nas vendas globais. “Isso não é só sobre preço, mas sobre narrativa. O TikTok transformou a ‘cópia’ em ‘alternativa legítima’”, analisa professora de Marketing Digital na NYU.
Enquanto isso, usuários como Emma Thompson, de Chicago, celebram: “Comprei uma bolsa idêntica à da Prada por US$ 120. Até o cheiro do couro era o mesmo”. Resta saber se as grifes vão processar ou repensar seu modelo.