Em um armazém discreto nos arredores da cidade industrial de Shenzhen, uma linha de produção silenciosa dá forma a um pesadelo ético. Bonecas de silicone, com rostos de crianças e corpos miniaturizados, são equipadas com inteligência artificial capaz de simular conversas e “emoções”. O objetivo declarado, satisfazer “necessidades emocionais”. Mas para especialistas em direitos humanos, o que se vende ali é a normalização da pedofilia.

A investigação do Daily Mail expôs a DS Doll, um dos maiores fabricantes de robôs sexuais hiper-realistas do mundo, como a responsável por comercializar esses modelos em escala global. Os principais compradores? Estados Unidos e Canadá.
A justificativa do fabricante e a fúria dos ativistas
Em resposta às críticas, a empresa insiste que as bonecas são “terapêuticas”, voltadas para “colecionadores” ou adultos que “não representam risco real a menores”. Mas a psicóloga forense Dra. Laura Berman, entrevistada pela reportagem, é categórica. “Isso não é terapia, é um simulacro de abuso. A tecnologia está sendo usada para validar desvios criminosos.”
Dados da Coalizão Contra Exploração Infantil revelam que, nos últimos dois anos as buscas por “bonecas sexuais infantis” cresceram 200% em fóruns obscuros. Para a Interpol, a linha entre a fantasia e o crime está se tornando perigosamente tênue.
Enquanto países como o Reino Unido baniram completamente a importação desses produtos, EUA e Canadá ainda não possuem legislação federal específica. Um projeto de lei parado no Senado americano desde 2021, o CREEPER Act, tentou proibir a comercialização, mas enfrentou lobby de grupos que alegam “liberdade de expressão”.
“É inacreditável que, em 2024, ainda debatamos se corpos artificiais de crianças podem ser sexualizados”, disse à reportagem a diretora da Defend Dignity, organização que pressiona a ONU por uma convenção global contra robôs sexuais infantis.
O mercado sombrio
O Daily Mail rastreou encomendas enviadas em embalagens discretas para endereços residenciais na Califórnia e em Toronto. Em um fórum anônimo, um comprador justificou. “É melhor que uma boneca do que uma criança real.” A fala, longe de ser um alívio, acendeu alertas. “Isso não reduz crimes; treina o cérebro para o abuso”, rebateu o psiquiatra Dr. Allen Frances, autor de estudos sobre parafilias.
Enquanto a China se recusa a intervir, classificando o caso como “exportação legal”, a pressão internacional aumenta. Resta saber se a legislação conseguirá acompanhar a velocidade sombria da inovação.