Em um hotel de luxo à beira do Rio Guamá, um apartamento modesto foi cotado a R$ 200 mil por dia durante a COP30. Pelo período completo da conferência climática 11 dias, o valor alcançaria R$ 2,2 milhões, o equivalente a 20 apartamentos de alto padrão em São Paulo. A cena surreal é só a ponta de um colapso anunciado: com menos de seis meses para o evento, Belém não tem leitos para receber as 50 mil pessoas esperadas, e o desespero já virou crise diplomática.

Delegações da Alemanha, China e Noruega enviaram protestos formais ao Itamaraty. Empresários ameaçam boicotar o evento. Até cidades vizinhas, como Ananindeua (a 15 km de distância), registram diárias de R$ 600 mil para o período. “É um tiro no pé do Brasil. Como convencer o mundo a investir na Amazônia se não conseguimos oferecer um teto?”, questiona um diplomata europeu, sob condição de anonimato.
O governo federal tenta conter o caos com medidas improvisadas: dois navios-hotel atracarão no porto, escolas serão transformadas em alojamentos e uma plataforma centralizará reservas. Mas o plano esbarra na realidade. Um executivo do setor hoteleiro, que pediu para não ser identificado, revela: “Muitos hotéis já superlotaram blocos de quartos para agências, mas não há garantia de que estarão disponíveis. É um mercado negro de hospedagem”.
A pressão fez a organização antecipar o encontro de chefes de Estado para evitar um colapso logístico. Enquanto isso, moradores de Belém alugam quartos em grupos no WhatsApp por valores até 10 vezes maiores que o normal. “É uma bolha especulativa. Quem paga é o meio ambiente”, diz uma ativista local.
O preço do descaso
Especialistas apontam que a crise era previsível. Belém tem apenas 8,5 mil leitos oficiais menos da metade do necessário. “Faltou planejamento integrado. Agora, o risco é que a COP30 vire um símbolo de incompetência, não de sustentabilidade”, alerta especialista em políticas climáticas.
Enquanto o mundo discute como salvar o planeta, Belém ensina uma lição dura: sem infraestrutura, até as melhores intenções viram pó.