Sirene alta, rastreamento ativo e alerta às autoridades, como a Apple frustrou saqueadores durante os protestos
Na noite quente de Los Angeles, em meio às ruas tomadas por manifestantes, um som inesperado cortou o ar. Não eram gritos, nem sirenes de polícia. Era um zumbido estridente, grave e incômodo, um tipo de alarme que parecia vibrar nos ossos. Na mão de um jovem, um iPhone recém-retirado da Apple Store do icônico Tower Theater exibia, em letras brancas sobre fundo preto, uma mensagem curta, mas poderosa:

“Devolvam o dispositivo ao Apple Tower Theater. Este dispositivo está desativado e sendo rastreado. As autoridades locais serão notificadas.”
Pela primeira vez em anos, uma cena comum durante distúrbios urbanos ganhou um novo desfecho. Quem imaginou que bastava correr para fugir com um aparelho da Apple descobriu, segundos depois que isso agora é quase impossível.
O fim dos saques fáceis
Fontes próximas à Apple confirmaram que a empresa reforçou seu sistema de segurança físico e digital nas lojas, implantando uma tecnologia antifurto que vai além dos tradicionais alarmes nas portas.
O mecanismo é simples na superfície, mas extremamente eficiente. Assim que um aparelho sai do perímetro seguro da loja sem ser corretamente registrado, ele:
- Ativa uma sirene acústica de baixa frequência, projetada para ser incômoda, mas não danosa — o suficiente para chamar atenção.
- Desativa imediatamente todas as funções do dispositivo.
- Exibe uma mensagem clara na tela, informando que está sendo rastreado e que a polícia local será acionada.
- Entra em modo de rastreamento em tempo real, permitindo que as autoridades localizem rapidamente quem estiver de posse do aparelho.
Uma estratégia de dissuasão psicológica
Não se trata apenas de impedir o uso posterior. Especialistas em segurança tecnológica explicam que o verdadeiro trunfo desse sistema é o fator psicológico: criar desconforto imediato, sensação de vigilância e a certeza de que não há saída fácil.
“Imagine correr por uma rua com um telefone berrando no seu ouvido, sem conseguir desligá-lo, e com uma mensagem constante avisando que você está sendo rastreado. Isso inibe o furto mais pela vergonha e pelo medo da captura do que pelo valor do aparelho inutilizado”, explica, consultor em segurança digital sediado na Califórnia.
Tecnologia que vai além do showroom
Essa funcionalidade não está presente nos aparelhos vendidos ao público. Ela é exclusiva dos dispositivos de exposição e estoque das lojas da Apple. É uma camada adicional de proteção que complementa outras já conhecidas, como o Find My iPhone que permite bloqueio e rastreamento remoto de aparelhos roubados por seus legítimos donos.
De acordo com dados de 2023 divulgados pela Consumer Technology Association (CTA), o roubo de eletrônicos durante distúrbios civis gera bilhões de dólares em perdas anuais para o varejo nos Estados Unidos. A Apple que já foi alvo recorrente durante esses episódios, agora parece ter encontrado uma maneira eficaz de reduzir esse prejuízo.
A iniciativa da Apple levanta uma pergunta incômoda para o restante do varejo: por que essa tecnologia não é amplamente adotada? Redes de lojas de roupas, calçados e eletrônicos ainda dependem de alarmes antiquados e seguros físicos que, como mostram as imagens recorrentes de saques, nem sempre são suficientes.
Empresas como Best Buy e Target, segundo analistas, já observam os movimentos da Apple como um possível modelo para o futuro.
O que diz a lei?
Do ponto de vista jurídico, o sistema cumpre rigorosamente as normas de privacidade e propriedade. O rastreamento é ativado apenas em dispositivos pertencentes à empresa e não há coleta de dados dos usuários, justamente porque não houve uma venda concluída. Isso garante que o método não infringe nenhuma lei de privacidade vigente na Califórnia, uma das mais rigorosas do mundo.
O recado da Apple é claro
Se a mensagem exibida nas telas dos aparelhos confiscados pelos saqueadores não fosse suficiente, um porta-voz da empresa, sob condição de anonimato, foi ainda mais direto:
“Os dispositivos das nossas lojas são nossos. E nós sabemos exatamente onde eles estão.”
O recado foi ouvido alto, claro e desta vez, literalmente nas ruas de Los Angeles.